quinta-feira, 26 de maio de 2011

ADOÇÃO: FAMÍLIA PARA TODOS.



Dia 24 de Maio, estivemos com algumas crianças do Programa de Aldeias Infantis SOS Brasil, em Brasília para o evento ADOÇÃO: FAMÍLIA PARA TODOS.
E o momento maior não foi o pronunciamento do Ministro Gilberto Carvalho, este muito inspirador por já ter adotado uma criança, e nem da Maria do Rosário que fundamenta o entendimento que o problema da disparidade matemática entre o menor número de crianças com destituição do poder familiar X o número 5 vezes de famílias inscritas para adotar crianças, não é uma questão que situa os Serviços de Acolhimento como os vilões dessa história de preconceitos que empurra para a vala comum a institucionalização de crianças, partindo-se do ex-modelo FEBEM.
O mote da Campanha "ADOÇÃO: FAMÍLIA PARA TODOS”, encabeçada pelo eficiente Entidade da Sociedade civil "Projeto Aconchego” seria justamente desmontar os mitos que impedem a ousadia para se adotar crianças maiores: com dificuldades, vistas como perdidas, advindas do mundo da tribulação, atrapalhadas com mil dificuldades, vítimas de um Estado perverso que nunca priorizou políticas publicas para esses Sujeitos de Direitos, tal como manda a Constituição Federal. E pelo discurso da Ministra Maria do Rosário já se vê a contestação do ranço de preconceito contra os serviços de Acolhimento como os responsáveis por tal fato.
Entretanto, o pronunciamento que levou alguns profissionais das Aldeias Infantis SOS Brasil, sobretudo a turma de psicólogos a conversamos sobre a situação das Mães Sociais (Educadoras Residentes), foi do ex-aluno da FEBEM, Sr. Antonio Carlos, contador de sua história de vida, sido visto como destinado a ser bandido, irrecuperável, com recorde em fugas e enfim tendo encontrado aos 14 anos uma mulher que se pôs na vida dele num amor incondicional, paciente, que tudo creu, que tudo suportou, esperou e confiou nele sem medidas ou metas de recuperação, mas que soube dialogar amorosamente, sem impor disciplina e normas de conduta, achando logo que devia ensinar os deveres.
É nesse contexto que quero refletir o trabalho das Equipes Técnicas que estão nos Serviços de Acolhimento. E aqui a nossa contribuição. Como também Projeto Social Aldeias Infantis em serviços de acolhimento se aventurou a acolher crianças com dificuldades mil, que deixa mulheres Mães Sociais ou Mães Adotivas de cabelo em pé. Idealizadas pelo sucesso e pelos resultados com seus filhos ou atendidos, ficam desesperadas e apressadas para "salvar”, tornar cidadãos, responsáveis, autónomos, protagonistas, estudiosos, frequentando a escola e sem perder as oportunidades de cursos e iniciativas de desenvolvimento. Esse desespero pode chegar à beira da violência da "devolução do filho/filha” em nome do falso amor que quer logo corrigir, e para tal aumenta e altera a voz, emite juízos condenatórios, violenta psicologicamente, reproduzindo o maltrato do qual as crianças vitimadas pelo abandono histórico já estão acostumados e se "lixando” como expressão de autodesprezo por parte deles. Nada mais do que reforçar que não prestam mesmo e que nasceram para serem abandonados.
Os técnicos precisam refletir e se habilitar para um trabalho de escuta das mães Sociais, mães potenciais e/ou já Mães Adotivas da prática de não cobrar tanto os resultados de sucesso, e sim de torná-las mulheres pacientes, corajosas, amorosas, espertas para o diálogo constante e perseverante. Mulheres serenas, que repetirão mil vezes, se precisar, com atitudes de confiança e de compromisso que confiam nos jovens e os fazem foco e agentes de amorosidade incondicional.
Explicito que o desejo de dar uma família para uma criança crescida, vítima da escassez das politicas de creche, educação integral, saúde, moradia, salário justo, é gesto de humanização. Quase sempre já crianças/adolescentes e jovens que se aliaram ao tráfico, ao uso das drogas, a problemas mentais ou físicos. Realmente existe uma correlação às mães sociais que devem em nome da Missão Organizacional proporcionar um ambiente familiar protetor às crianças estigmatizadas e desprezadas quase sem chances para as adoções ou ganhar uma família.
Precisa-se de candidatos à adoção habilitados, de mães sociais corajosas e resilientes, pacientes, capazes de suportar manipulações, acusações. Que cobrem menos resultados comportamentais e apostem mais na incondicionalidade do amor a toda prova, que suporte no tempo e enxergue neles desde o início o que o seu "filho ou filha ” tem de doce e de potencialidades. Para tal os técnicos tem que ser preparados: desenvolver nas mulheres a capacidade do diálogo, da participação do atendido, da esperança diante do dito e do não dito. Capacidade de entender a linguagem corporal aparentemente cruel do jovem que nada mais é do que uma força de expiação de sua dor e abandono expostos para quem o estar a amar.
O perigo das cobranças e da ideologia do sucesso tanto para os pais adotantes está na expectativa da mudança do comportamento, da integração social aos costumes da classe média, muitas vezes centrada no bem próprio, na busca do dinheiro. O pior e, sobretudo, na introjeção da culpa se o "filho/filha” não for pessoa de "bem”. Essa expectativa e essa tara do sucesso é o grande obstáculo para o amor incondicional tanto para as adoções tardias quanto para o acolhimento em casas lares.
Mãe social/cuidadora residente / família adotiva tem que ser capaz de sofrer assédios de cobranças por parte de muitos que sem vivência do embate e partilha de vida com essas crianças dão receitas e/ou apontam as feridas e ainda são acanhadas para exigir politicas públicas.
O caminho está aberto e dado o exemplo. Unamo-nos ao Projeto Aconchego que convoca a sociedade brasileira rever seu conceito e sua postura diante de tantas crianças sem direito a viver em uma família. Dizem ainda que assim é porque não estão situadas na linha da normalidade tradicional do ato de adotar para se ter um filho e não para dar uma família a uma criança necessitada.

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